EM FAMÍLIA: OS COCOS DE TAMBAÚ A PARTIR DA MEMÓRIA DE ANTIGOS PARTICIPANTES DAS FESTAS E DE SEUS DESCENDENTES
Cleomar Felipe Cabral Job de Andrade
Em família
O presente trabalho busca compreender como o processo de pesquisa desenvolvido durante os anos de formação em Sociologia levou-me a histórias familiares (minhas e de antigos moradores de Tambaú). Esse tempo de formação compreende desde a graduação em Ciências Sociais até o doutorado em Sociologia, de 1998 até 2011.
Remeto especialmente a meados de 1998, porque foi nesse período que dei início ao meu processo de formação enquanto pesquisadora no Laboratório de Estudos da Oralidade – LEO, participando do projeto integrado “Memória cultural de um bairro: a Torrelândia”, orientado pelo professor Marcos Ayala. Foi nesse momento, como voluntária, que tive meu primeiro contato com os grupos que dançavam o coco, pois foi organizado pelo LEO o show “Cocos e Cirandas da Paraíba”, realizado em 29 de janeiro de 1999, no Hotel Globo, localizado no Centro Histórico de João Pessoa.
Periodicamente participávamos de atividades coletivas (discussão de textos, reuniões de planejamento, organização e construção de material, pesquisa de campo) e o show dos “Cocos e Cirandas da Paraíba” foi um desses trabalhos que envolveram a dedicação dos vários integrantes do LEO. Trabalhamos intensamente cerca de quatro meses para que conseguíssemos concretizar esse evento, tendo como objetivo principal realizar o primeiro encontro entre os dançadores de coco e ciranda e para que também outras pessoas conhecessem essa brincadeira. Compareceram quatro grupos: o de Cabedelo, de Forte Velho, de Várzea Nova e de Guruji, como também uma enorme quantidade de pessoas, transformando o show em grande festa.
Naquela época, o LEO era um dos poucos grupos de pesquisa do CCHLA/UFPB composto por integrantes (docentes e discentes) de diferentes áreas de conhecimento, Letras, Ciências Sociais, Comunicação, Música, História. Essa interdisciplinaridade permitia diferentes olhares e abordagens sobre o mesmo processo cultural, contribuindo para a construção de diversas perspectivas a partir das trocas realizadas nas atividades coletivas, sob a coordenação de Maria Ignez Novais Ayala.
Em fevereiro de 1999, comecei a trabalhar como bolsista do PIBIC/CNPq/UFPB na pesquisa “Literatura e memória cultural: fontes para o estudo da oralidade”. Em 2000 e 2001, pude dar continuidade à pesquisa através de um novo projeto, “Laços de família: outras memórias e registros da cultura popular brasileira”, que teve como objetivo principal, conforme afirma Maria Ignez Ayala (2000, p.2)[1]:
contactar participantes de manifestações artísticas populares já registradas anteriormente (…) de modo a traçar, sempre que possível, uma espécie de mapa cultural de migração interna das atividades artísticas populares e o grau de parentesco ou outras formas de relação entre os integrantes de atividades como a brincadeira do coco, a ciranda, a nau catarineta, as lapinhas, a cantoria de viola, entre outras brincadeiras.
Nessa direção, meus estudos individuais estavam centrados na memória das brincadeiras populares em Tambaú, dando ênfase à brincadeira do coco. Em campo, a primeira pessoa que conheci foi Ana Maria Nascimento da Silva através de Maria Ignez Ayala. Os seus relatos, ricos em detalhes, permitiram-me entrar em contato com outros dançadores e cantadores que foram sendo referidos, incluindo alguns parentes meus.
A aproximação com antigos moradores dessa região, pois meus pais estão em Tambaú desde a infância, me colocava em uma posição limiar, ora confortável, ora desconfortável; por ser uma pesquisadora-nativa, nativa-pesquisadora, às vezes se tornava complicado, porém abundantemente prazeroso, expressar as transformações ocorridas através dos olhares dos moradores e ex-moradores de Tambaú.
Quando aceitei o convite de Maria Ignez para trabalhar com as brincadeiras populares nessa região, não tinha pensado na dimensão da repercussão do reconstruir ou construir as histórias culturais e de vidas, de uma coletividade, tão próximas a mim. Repercussão que me fez trabalhar o distanciamento e a proximidade, a pessoa e a pesquisadora. Ora aprendendo a estranhar o que me é familiar, ora me familiarizando com o que me era estranho.
Essa pesquisa me colocou em uma situação nova, em que eu era para alguns dos meus colaboradores, não uma pesquisadora, mas uma filha de um amigo, sobrinha, neta, filha, ouvindo, atenciosamente, as histórias de suas vidas.
Essa posição de pesquisadora com laços de família também me proporcionou vivenciar uma relação informal de coleta de dados com alguns dos meus colaboradores. Mesmo eu marcando dia e hora para ouvir suas histórias, elas podiam me aparecer em qualquer momento, em qualquer lugar, seja em casa, seja nas visitas familiares. Na verdade, várias dessas histórias sempre apareceram ao longo da minha vida, são histórias que fazem parte da minha memória de família, entretanto, o que mudava era meu olhar sobre elas, pois cada detalhe que surgia constituía, naquele momento, um dado importante de pesquisa.
Isso fez com que, quando surgiam informações, nas horas das refeições, nas horas de trabalho caseiro, nas horas de passeio, eu as anotasse logo depois nas cadernetas de campo. Passei a andar constantemente com caderneta e caneta[2]. Por outro lado, vale ressaltar também que várias histórias sobre as brincadeiras populares daquela região eu nunca tinha ouvido ou não tinha dado importância devido ao distanciamento geracional e, de certa forma, contextual e cultural dos quais eu participava.
É importante chamar a atenção de que a maior parte dos colaboradores das pesquisas realizadas em Tambaú conhecia meus pais; por conhecê-los, além do fato de eu ter sido também uma moradora, geralmente era considerada como uma pessoa “de dentro”, “de perto”, “de baixo” (THOMPSON, 1998). Entretanto, a aproximação com a maioria dos colaboradores da pesquisa era um fato novo, pessoas que por vezes eu só os conhecia enquanto personagens de histórias familiares.
Essa proximidade familiar me possibilitou abrir muitas janelas da memória e da confiança, mas é provável que tenha também fechado algumas. Por isso, busquei aproveitar o máximo possível das que me foram concedidas, respeitando também os silêncios, os pedidos explícitos de silenciamento de parte de seus relatos, as falas quase inaudíveis (estratégia de compartilhar o que deve ser guardado).
As manifestações populares de Tambaú já tinham sido ressaltadas e divulgadas através de documentários, discos e fotos pela Missão de Pesquisas Folclóricas, enviada por Mário de Andrade, em 1938. Não poderia deixar de falar em Dona Adelita, participante das brincadeiras populares do bairro da Torre, que com suas palavras cheias de vida e entusiasmo sobre suas experiências, me conduziram a olhar um modo de vida tão próximo e tão distante: tão próximo temporalmente, espacialmente, tão distante na densidade de significados. Tampouco, deixar de falar da minha estreita relação com alguns dos ex-dançadores das brincadeiras populares: meu pai, Paulo Felipe Cabral e minha mãe, Severina da Silva Cabral.
Fazer um estudo sobre o coco em Tambaú, ou o coco do Guruji (local que foi estudado em uma pesquisa de mestrado realizada por Henrique J. Pontes Sampaio), ou a memória do bairro da Penha (que foi estudada em pesquisa integrada do LEO, sob a responsabilidade do Prof. Dr. Andrea Ciacchi), é descobrir a história da minha família, seja de parentes próximos, como pai, avó paterna, avô materno, tio, seja de parentes distantes; é falar também da história de pessoas que nem lembram que possuem parentes que um dia participaram das brincadeiras.
No mestrado, entre 2003 e 2005, pesquisei as mudanças na região de Tambaú e as festas populares a partir da memória dos antigos moradores desse lugar, a partir da expressão “no meu tempo”. No doutorado, entre 2007 e 2011, desenvolvi um estudo sistemático sobre a Festa de São Pedro. O que interessava não era entender a festa em si, mas compreender as relações sociais construídas a partir da festa, porque conforme Brandão (1989, p.8), “a festa é uma fala, uma memória e uma mensagem”. Nesse caso, uma festa tradicional em um contexto multifacetado.
Tambaú e o processo de mudança
O espaço atual que conhecemos como bairro de Tambaú compreende uma das partes da antiga região de Tambaú. Essa região já foi considerada, em meados do século XIX, povoado do município; na década de 1960, tornou-se distrito. Atualmente encontra-se desmembrada em quatro bairros: Cabo Branco, Tambaú, Manaíra e Bessa, situados no litoral de João Pessoa. Por isso, utilizarei a designação Tambaú, ou região de Tambaú, para diferenciar do atual bairro de Tambaú.
Nessa época, a população era pequena, formada por pescadores e criadores de gado. Ao passar das décadas, o litoral foi se tornando uma região privilegiada para se morar. Nesse processo, os pescadores foram, em sua maioria, expropriados de suas casas em frente à praia, sendo deslocados para casas situadas em ruas mais afastadas da praia, como a Vila dos Pescadores. Por essa razão, nesse trabalho, vem sendo utilizada a expressão antigos moradores para sintetizar moradores e ex-moradores de Tambaú que viveram ou vivem na região antes ou a partir da década de 1960, os quais desenvolvem ou tem algum parentesco com os pescadores do lugar[3].
Atualmente essa região não é mais identificada por ser habitada por pescadores ou criadores de gado, visto que o primeiro grupo se tornou minoria e o segundo praticamente inexiste, tornando-se assim reconhecida como um conjunto de bairros habitados por moradores de classe média alta, com suas casas de alto padrão e edifícios. (SCOCUGLIA, 2000).
Tambaú vem passando por várias mudanças, dentre elas: aumento populacional em contraposição à redução das comunidades de pescadores e criadores de gado, maior número de trabalhadores e transeuntes devido ao acréscimo de espaços de diversão e comércio, violência, aparecimento e expansão dos edifícios residenciais, facilidades em fazer compras, abundância em transportes urbanos, modificação na “paisagem sonora[4]”, entre outras. Transformações que vão afetando as relações dos antigos moradores, sobretudo, os pescadores, com o distanciamento espacial do trabalho, divertimento, descanso, que propiciavam vivenciarem, ao mesmo tempo, relações de solidariedade e reprodução de hierarquias.
A partir do tempo de residência, foram observadas outras características e especificidades locais que diferem e interferem na relação entre os grupos aqui estudados, como: o grau de escolaridade, a remuneração, a cor de pele, os bens, áreas de descanso, assim por diante, e que consequentemente remetem a outras relações desiguais de poder que podem ser instituídas entre antigos e novos moradores.
Um fator objetivo de distinção e de identificação desses antigos moradores pertencentes ou relacionados ao universo da pesca é a residência. Ela serve como um fator de distinção entre antigos e novos moradores, entre famílias de pescadores e classe média. A partir dessa relação, enfocamos o processo de gentrification, podendo ser destacado como um de seus efeitos o reforço das desigualdades existentes, desencadeando expropriações e invisibilizações dos antigos moradores.
Sendo assim, esse aumento populacional ocasionou a aproximação espacial de pessoas dos mais diferentes estratos sociais, econômicos, étnicos e culturais, oriundos de dessemelhantes realidades, pondo em evidência desigualdades.
Caminhos (des)conhecidos
“Quati-lê-lêêêê…
quá, quá
cheguei agora
quá, quá
com um pé na meia
quá, quá
outro de fora
quá, quá”
(Paulo Felipe)
Ao lidar com histórias de vida de pessoas que estão em constante processo de exclusão, no sentido de dificuldades ou problemas sociais que acarretam o isolamento e até a discriminação desse determinado grupo, a confiabilidade entre pesquisador e colaborador, entre os “de fora” e os “de dentro”, deve ser conquistada e preservada[5].
É preciso desde o início explicar qual o interesse do pesquisador pelas histórias de vida dessas pessoas, qual o objetivo da pesquisa, para que elas se sintam mais à vontade para narrar suas histórias e tenham liberdade de selecionar o que lhes convém. Como afirma Ciacchi (1997), é a presença desse estranho que proporciona a formulação das histórias de vida. Nas pesquisas por mim desenvolvidas, não somente as histórias de vida, mas todos os diferentes tipos de narrativas necessários para compor as análises. Para esse autor, o pertencer a um dos subgrupos: “estranho cultural” ou “ausente geracional”, é mais um dos elementos que influencia na elaboração do relato do colaborador, possibilitando resultados diferenciados que advêm desses posicionamentos:
nesta perspectiva, com relação à história de vida, é necessário introduzir uma distinção entre dois subgrupos. Já foi dito que a condição para a formulação das histórias de vida é a presença de um estranho cultural; mas se deve acrescentar que as histórias de vida podem ser contadas também a pessoas ausentes aos acontecimentos, mas não necessariamente estranhas: é o caso dos relatos de guerra ou de fatos relativos a migrações, narrados para parentes ou amigos que não os presenciaram; em outras ocasiões, as pessoas que não estavam presentes são os ausentes geracionais, como os jovens, destinatários das histórias de família ou dos relatos sobre as condições de vida do passado. É diferente, entretanto, o caso dos relatos feitos para um interlocutor realmente externo à comunidade. (CIACCHI, 1997, p.227, grifo meu).
Nesse caso, ou melhor, em meu caso, há uma relação diferenciada. Nos primeiros contatos, sentia-me posicionada nesses dois subgrupos, tanto uma “estranha cultural”, mesmo não sendo, quanto uma “ausente geracional”. A estranheza cultural era proporcionada pelo fato de desconhecer as manifestações populares em foco, especialmente a brincadeira do coco, a Festa de São Pedro, de nunca ter vivenciado esses festejos antes da pesquisa, como também, de outras manifestações populares relatadas pelos colaboradores, que hoje não existem enquanto prática cultural dos moradores dessa região, mas em suas memórias; o que faz enquadrar-me, mais precisamente, em uma “ausente geracional”. Houve a participação de parentes meus (pai, tio, avós) nas festas de outrora, mas eu nunca tinha participado, até aquele momento da pesquisa.
Laraia (1986, p.83-84) afirma que a participação do indivíduo em sua cultura é sempre limitada;
nenhuma pessoa é capaz de participar de todos os elementos de sua cultura. […] O importante, porém, é que deve existir um mínimo de participação do indivíduo na pauta do conhecimento da cultura a fim de permitir a sua articulação com os demais elementos da sociedade.
Sendo assim, talvez a categoria de “estranha cultural” não correspondesse ao envolvimento existente, porque compartilho de vários signos e significados desse universo cultural. No entanto, cabia a relação de “ausente geracional”, que ao mesmo tempo contribuiu no estranhamento necessário para a coleta e análise dos dados e, nomeadamente, permitiu narrativas de confiabilidade pelo re-conhecimento.
Essa relação ficou ainda mais nítida quando algumas portas só foram abertas rapidamente (com proximidade, confiança e alegria) por razão de alguns antigos moradores conhecerem meus pais, apesar de nunca terem me visto. Isso ocorreu em diferentes momentos, um dos mais significativos aconteceu quando eu fazia um levantamento de dados na Vila dos Pescadores, casa por casa, conforme relato abaixo:
Bati palmas em frente a um conjunto de pequenas casas que dividia o mesmo terreno, falei com algumas crianças que brincavam, perto do portão, na lateral dessa pequena vila na Vila dos Pescadores. Elas entraram correndo em casa para avisar sobre minha presença. Ouvi quando disseram: tem uma mulher no portão. Um adulto espreitou pela porta. Mesmo assim, esperei em pé, insistentemente, por mais uns longos sete minutos, alguém responder ao meu chamado de “ô de casa![6]”. Quando finalmente um homem grita da última casa: quem é? Eu respondo meu nome, como se me conhecessem, e por fim, o tão esperado: entre! Percorri a lateral que permitia a entrada para as quatro casas do terreno, até chegar em frente a um casal de idosos[7], que olhava para mim com desconfiança. Iniciei minha fala explicando o objetivo da pesquisa e ressaltando o interesse em conhecer a Festa de São Pedro. Foi quando escutei uma resposta curta e fria, que desfazia minha expectativa de uma prolongada conversa: somos evangélicos! Perguntei se poderiam responder um questionário para pesquisa. Concordaram e logo me mandaram entrar, sentar, enquanto o senhor trabalhava consertando a porta e a senhora estava sentada na sala. Foi quando olharam bem para mim e perguntaram: quem é você? Você é filha de quem mesmo (franzindo as sobrancelhas)?! Era como se encontrassem ou procurassem em mim uma semelhança, uma familiaridade não pronunciada. Resultado, eles também conheciam meus pais. Depois disso, veio uma longa e alegre conversa, que durou todo o fim daquela tarde. É bem provável que não lembrem meu nome, porém, similar a uma pequena comunidade, conhecem a minha ascendência, que possibilitou uma aproximação de confiança para compartilhar memórias e experiências de suas vidas naquele mesmo momento. Estava claro que seria mais difícil e demorado conquistar a confiança deles, para que abrissem suas portas e narrassem suas histórias de vida, se não houvesse um re-conhecimento.
Nem sempre foi compartilhado com os colaboradores o fato de meus pais possivelmente os conhecerem por serem antigos moradores dessa região. Essa familiaridade não pronunciada me custou, muitas vezes, uma confiança conquistada mais lentamente. Em algumas ocasiões ou para algumas pessoas, fui confundida, no primeiro instante, com uma profissional dos meios de comunicação[8], por geralmente aparecer repleta de aparelhos eletrônicos: gravador, câmera, máquina fotográfica, apesar de sempre explicar o motivo da pesquisa. Mesmo assim, fui colocada, por vezes, em um lugar confuso: “cadê aquela menina?” (era a menina do gravador, da câmera e cheia de perguntas), mas que aos poucos ia conquistando uma relação de proximidade.
Nesse caso, o re-conhecimento por parte de alguns colaboradores, ao descobrirem que conheciam meus pais, tornou mais fácil estabelecer uma relação de confiança. Por outro lado, esse fato tendia a direcionar as narrativas para episódios que tinham vivenciado juntos (narradores e meus familiares). Pareceu-me, ainda, que o fato de pertencer àquela comunidade, de conhecer e conversar com alguns outros antigos moradores servia também como limitador das formulações acerca de alguns acontecimentos, aspecto observado também nas pesquisas anteriores realizadas nessa região, o que me levava novamente à familiaridade não pronunciada.
Cheguei a pensar que eles pudessem estar com certo receio de seu depoimento de alguma forma ser contestado por outrem (quando havia a preocupação, nas primeiras conversas, em saber quem ouviria aquelas histórias); ou quem sabe, seriam pontos ou espaços onde as decisões e memória entrariam em disputa, gerando um conflito entre as lideranças, entre mestres e demais pescadores, a memória coletiva e a individual, entre a “oficial” e a “subterrânea”. Essa questão se tornava ainda mais tensa, quando achavam que a minha presença estava vinculada aos meios de comunicação, contudo, alguns depoimentos (de desabafo e descontentamento) vieram à tona por causa dessa associação. Além disso, somente agora, foi possível tecer uma ampla teia familiar com os resultados obtidos nessa pesquisa.
Dessa forma, é preciso que o pesquisador construa com o colaborador ou colaboradores laços de re-conhecimento. Re-conhecimentos que geralmente não se dão pela familiaridade (consanguínea, parental ou de vizinhança), nem de pertença ao grupo (nas relações culturais e de trabalho), mas, sobretudo, de confiança e confidências conquistadas e preservadas.
Embora Cardoso (2004, p.95) estivesse preocupada com os compromissos teóricos que cada método supõe e em problematizar a “observação participante” e “participação observante”, ela destaca também a importância do processo de interação entre pesquisador e as minorias ou grupos populares, vejamos:
um pesquisador capaz de uma ‘boa’ interação com as minorias ou grupos populares será sempre um porta voz de seus anseios e carências, logo da sua ‘verdade’. […] Sua função é tornar visível aquelas situações de vida que estão escondidas e que, só por virem à luz, são elementos de denúncia do statu quo.
Esse re-conhecimento de confiança marcou uma trajetória e alguns resultados diferenciados em relação ao que descreve Maldonado (1994) em sua pesquisa. Aos poucos foram aparecendo mulheres que dividiam o trabalho no barco com os homens. Sim, um número pequeno, quase nunca pronunciado, mas presente na história da pesca em Tambaú. Essa me parece, não indiferente ao método escolhido, uma situação de vida que só aparece dependendo da forma que a relação é estabelecida entre pesquisador e o grupo estudado[9].
Também afirma Cabral (2005, p.151), que:
[…] abrir algumas janelas da memória não é somente lembrar coisas boas e bonitas, é também rememorar e recriar um passado por vezes sofrido, ao mesmo tempo, refletir sobre elementos do presente, e nesse entrelace, (re)construir a história de vida.
Desse modo, foram utilizadas, além de história de vida com alguns participantes das manifestações populares em Tambaú, as conversas informais e entrevistas apoiadas em roteiros temáticos, com registros nos contextos culturais habituais por meio de anotações escritas, gravador de áudio e fotos, durante o período de 1999 a 2011.
Nesse contexto foram contatados diferentes atores sociais em conversas informais, dentre eles, as contribuições foram fornecidas, através de entrevistas, depoimentos e histórias de vida, por treze mulheres e dezesseis homens, totalizando vinte e nove colaboradores, que formam a base principal desse trabalho. Essas pessoas foram escolhidas devido a sua participação na festa ou por ser família de pescador ou pescadores.
O perfil dos colaboradores
A história de minha vida…
saber a história de minha vida,
de onde eu comecei a trabalhar, né?
(Seu João Preto, 12/08/2010)
(Clique para ampliar as fotos e para fechá-las)
As principais vozes do trabalho desenvolvido em Tambaú pertencem a Seu Adiel, Seu Arlindo, Seu Aluizio, Dona Ana Maria, Dona Argentina, Dona Apolônia (in memorian), Dona Cila, Dona Ceiça, Dona Diva (in memorian), Seu Deca, Seu Fumacinha, Seu Galiléia, Dona Gelúcia, Seu Geraldo, Seu Ilton, Seu José Sérgio, Seu João Preto, Seu João Sapo, Dona Lena, Dona Lia, Seu Luca, Dona Maria Valdete, Dona Maria de Fátima, Seu Paulo, Seu Raminho, Seu Roberval, Dona Severina, Dona Silvia e Seu Zé Briba (in memorian) [10].
Desse modo, foram traçadas e destacadas algumas características que apareceram com maior frequência nos diferentes relatos dos colaboradores. No que se refere à idade, nota-se que a maioria da população pesquisada está na faixa etária de 50 a 70 anos de idade, nascidos entre os anos de 1940 e 1960, caracterizando uma população entre a fase adulta para idosa. Os demais colaboradores estão distribuídos em idades de: 70 a 90 anos, totalizando nove colaboradores (dessas nove pessoas, duas faleceram); 30 a 50 anos, constituído por seis pessoas; uma pessoa com 26 anos e uma que faleceu aos 92 anos de idade (1910-2001).
No que diz respeito ao estado civil dos colaboradores, observa-se que a maioria é casada. Quanto ao número de filhos, geralmente, eles têm de um a dois filhos (7 colaboradores), podendo ser destacado também o número de casais com sete a oito filhos (6 pessoas); os que tiveram cinco filhos (4 pessoas) ou dez a quatorze crianças (3 famílias).
As famílias dos antigos moradores de Tambaú, principalmente as de pescadores, comumente, são extensas. Geralmente encontramos os terrenos onde residem os antigos moradores subdivididos para abrigarem os filhos, netos e bisnetos, por isso é comum existirem duas ou mais famílias morando em uma mesma casa ou em um mesmo terreno.
Os colaboradores, incluindo alguns de meus familiares, aparecem geralmente com apelidos relacionados a animais que, na maioria das vezes, fazem parte de seu contexto, expressando alguma característica da pessoa ou circunstância vivenciada. Essa prática parece comum entre as populações negras e indígenas[11], presentes também em práticas de trabalho, como a pesca, ou culturais, como a capoeira. Vejamos alguns apelidos: João Sapo, Zé Briba, Cação, João Preto, Fumacinha. Às vezes, esses apelidos são mais significativos, pelo reconhecimento da pessoa em um determinado lugar, que o nome de batismo.
Em relação aos estudos, geralmente, os que nasceram até a década de 1930, nunca estudaram ou cursaram o ensino fundamental incompleto; os que nasceram na década de 1940 e 1960, também cursaram o ensino fundamental incompleto; os nascidos na década de 1950, concluíram o ensino médio; os que nasceram entre a década de 1970 e 1980, também possuem o ensino médio completo. Somente três pessoas cursaram o ensino superior completo. Entre os pescadores, percebe-se que a maioria situa-se entre o ensino fundamental incompleto e completo. Vejamos o perfil de Seu João Preto:
João Antônio Ribeiro, conhecido por João Preto, nasceu no ano de 1936, filho de Odilo Antonio Ribeiro e Francisca Antônia Nascimento. Seu pai, natural de Tambaú, desenvolvia a atividade de pescador e sua mãe, nascida no interior da Paraíba, depois foi morar na Penha, trabalhava com “roupa de ganho[12]”. Seu pai também foi registrado pela Missão de Pesquisas Folclóricas. Seu João Preto teve dois irmãos, que já faleceram. Começou a trabalhar desde tenra infância, vendendo água e caju, cortando lenha, fazendo lenha, limpando curral, entre outras atividades, só depois, aos 10 anos, se iniciou na pesca. Cursou o ensino fundamental incompleto. Morou em Cabo Branco e há muitos anos é morador da Penha. Foi casado com Maria e Isabel. Teve quatorze filhos, dentre eles: Josildo, conhecido por Zildo, que também desenvolve a atividade de pescador. Durante os depoimentos falou principalmente do universo da pesca: as marcações, as formas de pesca. Destacou que quando os pescadores estão no mar, eles pedem proteção a São Pedro. Seu João Preto brincou coco e atualmente participa de um grupo musical.
Laços de família: uma rede a partir dos relatos
Laços de família, a partir dos resultados obtidos, se referem a gerações de famílias que desenvolvem algum trabalho, festa, brincadeira, entre outros afazeres, em um mesmo lugar ou, ainda, em regiões diferentes; como também, podem envolver a extensão familiar em uma mesma atividade. A cultura popular é geralmente constituída e repleta de laços de família. Em Tambaú, não é diferente, refletir sobre a história do lugar, as brincadeiras populares, a pesca, ou mesmo, a Festa de São Pedro, é pensar em laços de família.
Entre os pescadores ou antigos moradores de Tambaú, talvez similar a outras comunidades tradicionais, percebe-se uma grande rede familiar. Nessa perspectiva, foi construído um quadro ilustrativo das conexões familiares encontradas entre alguns dos colaboradores. Esse quadro é importante para servir de orientação sobre as relações familiares compostas entre os pescadores de Tambaú e adjacência.
Cada vez que é possível avançar sobre a história dessa região, do passado próximo e distante, em direção aos antigos moradores, pescadores, mais laços podemos formar. Como não era o foco principal traçar todas as conexões familiares entre os antigos moradores que participam ou participaram das manifestações populares, nem todas as pessoas entrevistadas ou mencionadas foram contempladas no quadro. A intenção dos quadros abaixo foi simplesmente exemplificar outros fios relacionais (parentais) ainda presentes nessas regiões.
Os laços de família, sua extensão e temporalidade, nessa região, foram cruzados a partir das narrativas dos colaboradores. Para compor essa rede, também utilizei alguns dados registrados pela Missão de Pesquisas Folclóricas, no ano de 1938, em Tambaú[13], que foram aparecendo em diferentes relatos.
Por essa razão, no primeiro quadro, os nomes que estão indicados com a data de nascimento são as pessoas que entrevistei, esses virão acompanhados também de um número para mais facilmente serem localizados; outros nomes aparecerão acompanhados da abreviação MPF-1938, lembrando terem colaborado com a Missão de Pesquisas Folclóricas; os nomes que aparecem sem nenhuma data ou número foram mencionados por meus colaboradores, são geralmente seus filhos, irmãos, pais. As cores utilizadas são para relacionar pais e filhos.
Quando pensei na formulação desse quadro, tinha em mente uma grande rede colorida, em que de longe, é possível perceber um emaranhado difuso, mas só de perto, conseguimos ver os elos, os encontros, os nós, os laços e os espaços. Cada vez que eu ouvia uma história de vida iam aparecendo e se repetindo nomes em diferentes relatos, evidenciando os laços e compondo uma rede familiar, nem sempre tão clara, por isso a necessidade de compor esse quadro.
No segundo quadro, tentei aproximar os laços de família, selecionando um número menor de colaboradores, ao quadro da relação de parentesco mais comumente utilizado na Antropologia. Nele, a relação entre pais e filhos se torna mais facilmente identificável. Os nomes dos colaboradores também aparecem acompanhados de um número para mais facilmente serem localizados. Vejamos os quadros a seguir:
Figura 1 – I quadro dos laços de família
Crédito: Magno Job
Figura 2 – II quadro dos laços de família
Crédito: Magno Job
O barco, a relação de confiança e a rede familiar
Ainda hoje a noção de família é, devido à relação de confiança, um critério importante para participar da tripulação, no trabalho, e de outras atividades sociais. Talvez simbólica e objetivamente seja a possibilidade mais próxima de continuidade da herança do pescador: “o barco, a marcação e a mestrança”, mesmo que se tenha, em Tambaú, a constatação de poucos barcos compostos por uma única família (consanguínea)[14].
O barco é um instrumento de trabalho, meio de transporte e acesso ao mar, ou ainda, conforme ressalta Maldonado (1994), o barco pode referir-se à tripulação que o ocupa e maneja e às relações interpessoais que se estabelecem entre os pescadores durante as jornadas. Por vezes, ele pode ser entendido, em algumas ocasiões (em pescarias próximo à costa, no despescar de redes, realizadas geralmente nos fins de semana) como uma unidade de trabalho familiar, composta por filhos, irmãos, cunhados, primos, sobrinhos, esposa e filhas; além da possibilidade de ser incorporada à família (como uma das principais características atuais) a “irmandade”, parentes através de compadrios ou por pescarem juntos há muito tempo. Conforme acrescenta Maldonado (1994, p.72, grifo da autora):
além de um mecanismo social de ordem do afetivo que minimizaria os riscos e tensões inerentes à convivência com o mar, a utilização do parentesco como referencial produtivo também é uma forma de garantir a confiança na competência dos pescadores entre si pelo pré-conhecimento e a experiência familiar. Também é uma forma de gerenciamento de força de trabalho, de estruturar o poder e de reproduzir a tradição.
O barco pode servir também como um espaço de diversão. Alguns membros da família, em seu sentido amplo, saem para as piscinas naturais encontradas na costa marítima urbana, ou se encontram para passear, “tomar um mergulho”, comer, beber, se divertir.
A marcação abrange o modo como o pescador se orienta no mar, seus caminhos e rotas para atingir um pesqueiro e de retornar para a terra, é uma forma de mapeamento. A orientação pode ser através do vento, estrelas, maré, falésias, as cores das águas, as pedras no mar, etc.
A mestrança é o conhecimento do pescador sobre os instrumentos de trabalho, os objetos de trabalho (por exemplo, as variações de peixe), as diferentes formas de pescá-los, a marcação, a tripulação, cuja autoridade deriva do notável saber. É também a precisão nas tomadas de decisões e a capacidade de manter segredo. O mestre é o responsável por tudo que ocorre quando ele e sua tripulação saem para pescaria.
Maldonado (1994, p. 134, grifo da autora) destaca na constituição de ser mestre e na sabedoria da mestrança um ideal social, de confiança, igualdade, competência e a liberdade dos pescadores, que se constroem a partir da família, da “irmandade” e do povo:
[…] falar-se do mestre e da mestrança é falar de algo universal e indissociável à pesca, que congrega numa pessoa, num papel, um ideal social. O mestre é como um arquétipo que se visse à proa dos barcos, o olhar penetrante, atento, tendo nas mãos por atribuição da sua sociedade e do seu bote feixes de relações, de práticas e de sentimentos.
A falta de interesse por parte da nova geração (filhos, netos e bisnetos) em relação à pesca é um tema recorrente nas conversas e histórias de vida. Todos os pescadores e esposas ressaltam a dureza do trabalho e as possíveis implicações e complicações na vida, quando se opta ou segue por viver da pesca. Por outro lado, aparece certa angústia quando nenhum filho escolhe ou trilha esse caminho, como se o saber específico da arte da pesca (a marcação, a mestrança), ou mesmo, a utilização do barco, fossem ceifadas naquela família, uma herança a ser perdida. Semelhante observação fez Firmino Júnior (2006, p.140, grifo do autor), quando escreve que: “esta atividade vem aos poucos deixando de ser considerada como meio de vida para os filhos dos pescadores, o que quebra aquela lógica estabelecida como forma de continuidade da tradição reconhecida a partir do elemento da herança”.
Em Tambaú e na Penha, parece haver um processo inicial de mudança na forma de hierarquia e conhecimento na pesca com a aquisição de Global Position System – GPS, mesmo que, a inserção dessa tecnologia, presente em quase todos os barcos, ainda não configure, nesse momento, a substituição da tradicional forma de pescar (a marcação feita pelo “olho e inteligência” do mestre), nessas regiões.
Se, na época da pesquisa realizada por Maldonado (1994), ocorria a mudança de barcos à vela para motorizados, implicando posteriormente, em transformações no tamanho da tripulação, a quantidade de dias ao mar, gastos, etc., atualmente, a inserção do GPS pode modificar as relações de autoridade fundamentada pelo saber da marcação.
Considerações finais
Ao ser traçado o perfil dos antigos moradores, foi descoberto e tecido também uma rede familiar, foram aparecendo os “laços de família”. Essa rede são histórias que se cruzam não só por morarem ou terem morado em Tambaú, mas pelos laços de família e de amizade, que são permeados de harmonia e conflito, nas esferas de trabalho e diversão.
Surgem, a partir desse entrelace, as práticas e o universo simbólico que se estabelecem no saber-fazer de pescador e nas relações sociais e “parentais” construídas no mar e prolongadas em terra, ou ainda, construídas em terra e revivificadas nas jornadas no mar. Nesse caso, o trabalho aparece não somente como fio condutor das histórias de vida, mas também como fio condutor de histórias de família.
Por outro lado, também foi possível constatar que, geralmente a cultura popular é constituída e está repleta de laços de família. Em Tambaú, não é diferente; refletir sobre a história do lugar, as brincadeiras populares, a pesca, ou mesmo, a Festa de São Pedro, é pensar em laços de família.
A integração, trocas materiais e simbólicas, no divertimento e no trabalho, que implicam o envolvimento de dois espaços: terra e mar, além dos laços de solidariedade e parentescos entre os antigos moradores de Tambaú, constituem fatores cruciais para o prolongamento e permanência das relações nessa comunidade, conforme aparece nas narrativas dos pescadores de Tambaú.
REFERÊNCIAS
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[1] Este trecho encontra-se em um projeto integrado de pesquisa pertencente a AYALA, Maria Ignez Novais. Laços de família: outras memórias e registros da cultura popular brasileira. João Pessoa, UFPB, 2000.
[2] No doutorado, utilizei não somente a caderneta como também o gravador de áudio.
[3] Até mesmo as pessoas identificadas como donas de vacaria, consideradas localmente como pertencentes a outro grupo social, em geral, mantinham algum contato com a pesca ou contraiam alguma relação de parentesco com os pescadores.
[4] A esse respeito ver R. Murray Schafer (2001).
[5] Ver sobre esse assunto: Bosi (2003); Thompson (1992); Pereira de Queiroz (1991).
[6] Expressão popular utilizada por visitante para chamar e saudar as pessoas que residem numa casa.
[7] Indicados, por outros moradores da Vila dos Pescadores, como antigos moradores da região.
[8] Vale destacar que presenciei a Festa de São Pedro recebendo cobertura expressiva e destaque nos principais jornais escritos e falados do Estado da Paraíba no ano de 2010.
[9] Outra variante possível, não antagônica ao método e relacionamento estabelecido, para o surgimento das mulheres que pescavam em Tambaú, é o momento histórico marcado pela multiplicação das reivindicações por áreas de trabalho ou reconhecimento da laboração de mulheres em espaços ou tarefas antes vistas ou desempenhadas unicamente por homens. Na área da pesca não é diferente, atualmente há movimentos de pescadoras, por exemplo, a Articulação Nacional de Pescadoras no Brasil (ANP) ou associações de mulheres de pescadores, solicitando seus direitos e reconhecimento de trabalhadoras da pesca junto às colônias, sindicatos ou federações de pescadores (MANESCHY; ÁLVARES, 2010). No entanto, ainda distante dessa realidade, em Tambaú, a pesca é predominantemente desempenhada por homens e um espaço de trabalho machista, no qual as tarefas realizadas por mulheres na pesca pouco são observáveis e observadas, assumidas ou relatadas.
[10] Para conhecer a descrição de cada colaborador ver Andrade (2011, p. 93-107).
[11] Sobre apelidos e nome de animais ver também: De Paula (2007); Grunspan-Jasmin (2006); Garcia (2003).
[12] Recebia dinheiro com o trabalho de lavar roupas.
[13] Ver: Andrade (2006) ou informações na versão online da Missão de Pesquisas Folclóricas, disponível em: <http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/missao/cd02_frameset.html>. Acesso em: 12 mar. 2010.
[14] Firmino Júnior (2006, p.70) constatou somente um barco cuja tripulação era constituída apenas por pessoas da mesma família consanguínea.