Apresentação
Maria Ignez Novais Ayala
Esta publicação resulta de um trabalho coletivo, compartilhado e desenvol-vido com a repentista Maria da Soledade Leite, mais conhecida como Maria da Sole-dade. Foi possível porque houve a colabora-ção de vários pesquisadores do Laboratório de Estudos da Oralidade, da Universidade Federal da Paraíba.
No LEO-UFPB formou-se, desde meados dos anos 1990, um grupo de pesquisa voltado ao estudo de festivais de repentistas, entre os quais, os de mulheres repentistas, organizados por Maria da Soledade. Nessa época, Maria da Soledade pouco an-tes ou depois do I Encontro de Violeiras do Nordeste, que ocorreu em Alagoa Grande, no dia 26/04/1992, passou-me um envelope contendo um material para eu organizar e, se possível, publicar. Marcos Ayala partici-pou comigo de todas as pesquisas de cam-po, colaborando com sugestões, com o trabalho de registros sonoros e revisão de transcrições. Os bolsistas, durante muitos anos, se envolveram com leituras sobre cantoria e com o trabalho de pesquisar em campo, fazer as transcrições dos registros sonoros de poemas das mulheres repen-tistas e digitá-las, fazer registros audiovisuais, editar vídeo e estudar a produção de poetas repentistas, homens em sua grande maioria, e mulheres, raras presenças nos festivais e encontros existentes em muitos estados nordestinos. Além de acompanhar o trabalho da equipe, comecei a me familiarizar com o conteúdo daquele envelope entregue por Maria da Soledade.
Tratava-se de uma profusão de papéis de todos os tamanhos: folhas de caderno, pedaços de papel com trechos de poemas dos mais variados assuntos. Levei um bom tempo, dando ordem aos manuscritos, identificando sequências e organizando por temas.
Coube à equipe, formada por Danielle Dayse Marques de Lima, Josélio Paulo Ma-cário de Oliveira e Vlader Nobre Leite, a digitação dos manuscritos, o estabelecimento de classificação temática, seleção e estu-dos de poemas. O resultado do trabalho estimulava-os a apresentar trabalhos em encontros de Iniciação Científica. O conjunto de documentos originais de Soledade, já digitado, foi apresentado a ela, que empres-tou novos cadernos para selecionarmos ou-tros manuscritos. Apesar do grande empe-nho de todos, a equipe se dispersou e essa documentação inédita se manteve sob mi-nha guarda por mais um tempo.
Há alguns anos, o conjunto de poemas de Soledade foi retomado por mim e Josélio, fizemos nova seleção e revisão geral, junto com Maria da Soledade. Resolvemos não incluir poemas mais recentes, o que atrasaria ainda mais o preparo dos originais do livro para publicação. A falta de re-cursos financeiros também contribuiu para a demora da edição, que só se viabilizou recentemente, graças ao apoio de pesquisa recebido do CNPq, através do Adicional de Bancada obtido junto com a bolsa de Pesquisa 1D, que me foi concedida para desenvolver o projeto “Saberes e fazeres não institucionais: estudos e divulgação de acervo etnográfico do Patrimônio Imaterial Brasileiro”.
O livro Nossa história em poesia pretende divulgar a produção poética de Maria da Soledade, poeta repentista paraibana, na profissão há mais de quarenta anos, alternando sua moradia entre João Pessoa e Alagoa Grande, onde é muito conhecida e recebida calorosamente, como pude constatar várias vezes.
Esta publicação, certamente, ampliará o conhecimento de uma repentista que dá continuidade a saberes e fazeres tradicionais veiculados por transmissão oral e escrita de gêneros da cantoria e do cordel, além de abordar questões sociais, muitas delas relacionadas à mulher.
A difusão da produção poética de Maria da Soledade, repentista e trabalhadora rural é um modo de dar visibilidade à produção da mulher repentista e, assim, contribuir para que se tenha mais fontes para o estudo da Poesia Popular Nordestina.
Com a publicação em livro impresso e e-book, acreditamos que a produção poética de Maria da Soledade chegue a escolas públicas de Alagoa Grande, da região do brejo e de outros municípios paraibanos, a outras instituições regionais, nacionais e in-ternacionais, com ações voltadas para as culturas populares e patrimônio imaterial.
Professores e estudantes se beneficiarão com esta publicação que enriquecerá a todos leitores, contribuindo com o conhecimento da Literatura popular, da História e das desigualdades sociais, através da experiência vivida e do ponto de vista de Maria da Soledade, expostos nos poemas.
Maria da Soledade enfrentou muitas dificuldades, como a maioria das mulheres repentistas, pois, como se sabe, a profissão de poeta repentista é exercida basicamente por homens, no Nordeste e em outras regiões do país.
O próximo passo é inserir no site www.acervoayala.com, junto com capítulos do e-book, outras informações sobre esta e outras mulheres repentistas, visando a consulta de estudantes e do público em geral. Queremos passar aos leitores parte da rica experiência compartilhada entre a autora da criação artística e os organizadores da edição, através da seleção de poemas narrativos, reunidos durante um longo processo dialógico que vem se construindo há muitos anos e que motivou a elaboração deste projeto.
Vale ressaltar mais uma vez que a pesquisa e esta edição foram realizadas com o apoio do CNPq, através de diferentes bolsas de pesquisa a que agradeço em nome de todos os envolvidos.